18 jan 10: Lençóis - Pau de Colher - Remanso

Saímos cedo de Lençóis, a cavalo, rumo a zona rural.

Contrafilé, Olivia e Valneide.
Nossa intenção era realizar uma investigação-ação coletiva
e dar início à um "Mapeamento de usos e histórias do fogo" na região.


mapa do percurso realizado no dia 18 janeiro, feito por Olivia com uso do GPS.














Em Pau de Colher, o Sr. Messias nos contou uma história:
Tinha ficado muito tempo sem botar fogo em sua roça.
Juntou alguns montes de matéria orgânica acumulada para queimar.
Essa ação rendeu uma multa de R$ 500,00 do IBAMA.
Ele conseguiu recorrer e não precisou pagar!


Ao invés de queimar, Messias costuma roçar e usar os montes como adubo.
Não quer "ferir com a natureza", tão presente no povoado.
Ele tem várias roças que não usam queimada.

"Se vocês passarem aí, vão ver fogo que trator juntou para queimar... e o IBAMA passa batido... e uma fogueirinha minúscula, o IBAMA multa".
Messias se referia às queimadas feitas nas terras da Fazenda da Encantada, propriedade de um português, fronteira com Pau de Colher.

Messias é pequeno produtor e pescador.
Planta, colhe e vende na feira de Lençóis.
Banana, abóbora, peixe...
Da feira, traz outras coisas para abastecer a família.
Em sua casa moram 10 pessoas.

Pau de Colher recentemente foi reconhecida como comunidade quilombola.
Uma enorme mangueira, testemunha dessa história, tem mais de 150 anos.
Nenhuma família tem água.
Água vem do telhado.
Vem também do rio, em potes carregados pelos animais.





Depois da enorme mangueira, as terras da Encantada.
Zebus, pasto, búfalos, pasto,
emas, pasto, cabras, pasto.
Quase não sobrou pé de árvore pra contar história.
A Encantada, o paredão da Chapada e nenhuma sombra.









A trilha acaba quando encontra o rio.
O Marimbus é porteira para o Remanso.
Churi nos levou com a canoa.
Papirus, pássaros, orelhas de onça, tartarugas.









A história do pai, do avô e do Churi é a história do quilombo.


Sr. Aurino nos falou da importância dos mais velhos e dos mais novos:

Os antigos sabiam quando plantar,

Podiam sentir a chuva, sabiam quando ia chegar.

Hoje, os mais novos não sentem mais a chuva,

Mas sabem de coisas que os mais velhos não entendem.

Sr. Aurino sente viver num mundo que não é mais o dele,

Mas sabe que este mundo de hoje só pode continuar,

Se os mais novos aprenderem com ele,

Como se pode pressentir a chegada da chuva.

O pai de Sr. Aurino não lhe deixava tocar a sanfona.

Mas ele observava.

Da observação aprendeu e, antes de seu pai morrer,

Mostrou que ele seguiria a sua missão na comunidade.










Em Pau de Colher e no Remanso é possível sintonizar a Laúza FM, do alto do Tomba, na frequência Avante.



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